A Universidade de Fortaleza recebe, no dia 12 de setembro, a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz para palestra sobre o lançamento do livro Dicionário da Escravidão e Liberdade, coordenado por ela e pelo historiador Flávio dos Santos Gomes. A palestra, promoção da Vice-Reitoria de Extensão, acontece às 9h30, no Auditório da Biblioteca e é aberta ao público.
Além da palestra, será promovida uma feira de livros no Centro de Convivência da Unifor, em parceria com a Fortlivros e a Companhia das Letras. O evento, que acontece de 10 a 20 de setembro, é voltado para a comunidade da Unifor e o público geral.
Todos terão desconto único de 20% na compra de livros, incluindo o livro de Lilia Schwarcz, além de parcelamento do valor no cartão de crédito em até 6 vezes sem juros (valor mínimo da parcela de R$ 50,00). Uma oportunidade para adquirir obras de Literatura, infantil, biografia, Comunicação, Sociologia, Marketing e Administração.
Sobre a obra
Para marcar, de forma crítica, os 130 anos da libertação dos escravos no Brasil, o livro reúne 50 ensaios críticos com o que há de mais atualizado nas pesquisas sobre o assunto. Os verbetes retratam o vigor da investigação científica brasileira desenvolvida sobre escravidão e pós-emancipação nos últimos 30 anos. Os temas englobam tráfico atlântico (feita em embarcações à época chamadas de tumbeiros, pela mortalidade e condições aviltantes em que os africanos eram transportados), família, história da saúde e da doença, questões de gênero e corporeidade, ritos fúnebres, legislações escravista e emancipacionista, entre outros.
O amplo espectro de temáticas abordadas pelo Dicionário é trazido ao público em linguagem acessível e sem notas de rodapé, para o leitor que não é da academia. Uma das propostas do livro é romper com concepções errôneas sobre o tema, como a “suavidade” da exploração de homens e mulheres negras no Brasil em relação a outras colônias ou o desconhecimento das revoltas em outros lugares. Notícias sobre revoltas de escravos no Haiti, motins em navios negreiros e a abolição em outras partes da América circulavam entre os escravizados por meio de marinheiros, africanos e “línguas”, espécie de tradutores das várias línguas africanas.
“Embora a escravidão seja quase tão antiga quanto o homem na história e esteja presente no desenrolar de quase todas as culturas, é com extrema dificuldade que conseguimos estudá-la como algo que ficou no passado e lhe pertence completamente. A ela se aplicaria a afirmação de que não há história que não seja contemporânea, pois com a régua dos sonhos do presente medimos os sucessos que narramos”, ressalta o prefácio da obra.
Na palestra, a autora buscará relações entre temas abordados no livro e obras da exposição “Da Terra Brasilis à Aldeia Global – Coleção Fundação Edson Queiroz”, em cartaz no Espaço Cultural Unifor, que apresenta obras e livros raros desde a época do Descobrimento do Brasil, incluindo o período colonial brasileiro.
Confira a seguir entrevista com a historiadora Lilia Schwarcz sobre o livro Dicionário da Escravidão e Liberdade.
Entrevista
UNIFOR: Para além da questão dos vestígios e documentos do período da escravidão e da pós-emancipação no Brasil, o livro identifica uma série de tentativas de apagamento e “desinteresse” por essa história nos séculos XIX e XX. Qual a importância das pesquisas que vêm sendo realizadas nos últimos 30 anos e o que motivou a composição do Dicionário?
LILIA SCHWARCZ: As pesquisas têm revolucionado o campo. Chamado atenção para questões de gênero, de região, de gerações. Ou seja, cada vez mais falamos de “escravidões”. Também vêm mostrando como existiram muitas escravidões diferentes já que o sistema se espalhou pelo país e cidades e no campo. Também o biografismo é uma nova vertente, buscando histórias singulares e não apenas coletivas. Também foram muitas as Áfricas que entraram no país. Enfim, o campo tem sido de fato revolucionado.
UNIFOR: Por um lado, o livro traz variedade de temas que interessam não apenas os historiadores, como também antropólogos, economistas e operadores do Direito. Por outro, o livro foi concebido com uma linguagem acessível e “sem notas de rodapé”. Qual a relevância destes dois fatores para a abordagem da escravidão brasileira?
LILIA SCHWARCZ: O sistema escravocrata, como se transformou numa linguagem social, e com graves consequências, moldou não só o sistema de trabalho, como religiões, ritmos, linguagens, convenções visuais e muito mais. Por isso pede por abordagens muito-disciplinares. Pedimos aos autores que escrevessem para o grande público, evitando citações ou notas de pé de página. Flávio Gomes e eu também editamos muito os textos. A vantagem é alcançar um público interessado mas não obrigatoriamente especialista.
UNIFOR: O livro aborda uma questão, para os leigos, inusitada: a circulação de informações sobre movimentos libertários e revoltas escravas entre negros e negras subjugados na América, no Caribe, na África e na Europa. No Brasil, como esse conhecimento contribuiu para as lutas de emancipação dos escravos?
LILIA SCHWARCZ: Contribuiu muito pois a revolução no Haiti, por exemplo, dava ideias e modelos para rebeliões no Brasil. O oposto também ocorre. As insurreições brasileiras, como a Revolta dos Males na Bahia, alimentaram, igualmente imaginações revolucionárias em outros locais. O fato é que a escravidão criou um Atlântico negro, conforme define Paul Gylroe, onde muitas coisas circulavam.
Serviço
Feira de Livros
De 10 a 20 de setembro de 2018
no Centro de Convivência Unifor
Palestra com a historiadora Lilia Moritz Schwarcz e lançamento do livro Dicionário da Escravidão e Liberdade
Dia 12 de setembro de 2018, às 9h30
no Auditório da Biblioteca Unifor
Entrada franca
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